A moda da banha
- Natália P. Castro
- 27 de jun. de 2018
- 3 min de leitura

Esse será mais um daqueles textos que no final a gente termina dizendo... “coma de tudo um pouco” ou “moderação”. Essas palavras serão ouvidas frequentemente aqui no NutS, porque entendemos que o extremismo nunca (hahaha) está correto.
Recentemente fui incumbida, com mais duas amigas, de escrever uma revisão sobre dietas que tem excesso de gordura. Ou seja, atualmente, o que chamamos de dieta ocidental (Brasil incluso – não estamos falando só dos EUA e Canadá). Nada mais nada menos do que os nossos almoços e jantares com frituras diárias. Entra o hambúrguer, o peixe, a carne vermelha e o frango fritos. Isso quando não é empanado. Ou à parmegiana: nada como um frango empanado no ovo, frito no óleo quente e depois levado ao forno com um queijo, de preferência daqueles bem amarelos por cima. Sempre com arroz, claro. E a sobremesa não pode faltar: talvez um pudim. A clássica dieta ocidental: rica em gordura e açúcares. Delícia, né? Siiiiiiim.
Mas o consumo frequente da “dieta ocidental”, rica em gordura e açúcares, está associada ao aumento de mortes por câncer e doenças cardiovasculares. Por isso, sugerimos moderação. Preferir, quando possível, grelhar os alimentos. Usar pouco óleo e escolher bem o óleo que vai usar.
Pois é... Continuando. Eis que nas minhas buscas, encontro vídeos e textos sobre como é possível emagrecer se passarmos a comer banha.
Banha. Vocês sabem o que é banha? Banha é a gordura do porco, que, num passado não tão distante, foi usada para passar no pão, fazer frituras e muitas outras preparações. A banha é realmente saborosa: as gorduras têm essa característica, de conferirem mais sabor ao alimento. Por isso, alguns chefs de cozinha ainda preferem usar a banha a outros tipos de gorduras. Atualmente, a banha é vendida nos mercados na sua forma sólida, refrigerada. Por ter bastante gordura saturada, a banha é sólida na temperatura de geladeira (como a manteiga).
E quem nunca ouviu: “No meu tempo, a gente só comia banha e ninguém era gordo”. Esta era, afinal, a gordura cujo acesso era facilitado naquele tempo: barata e disponível.

No entanto, nas minhas buscas, não encontrei um estudo que tenha referido a banha como gordura emagrecedora. Aliás, muito pelo contrário. Em estudos que comparam banha, manteiga, gordura do leite, óleo de coco (outro campeão de gordura saturada), azeite de oliva, óleo de soja, milho, palma, óleo de peixe e óleo de cártamo, as gorduras mais saturadas, como a banha, manteiga e óleo de coco foram responsáveis pelo aumento do peso corporal dos animais de laboratório submetidos à essas dietas. Ainda, observa-se, quase sempre, uma piora significativa no colesterol total e do “colesterol ruim” (LDL-c) desses animais. O peso dos órgãos aumenta. O fígado, por exemplo, fica mais pesado, cheio de gordura.
Será então que você deve voltar a cozinhar com a banha de porco?
Não recomendamos que isso seja feito com a frequência de antigamente. Afinal de contas, hoje somos mais sedentários. Usamos o carro, o elevador, o metrô e ônibus para nos locomover. Abrimos as janelas do carro automaticamente. Antigamente, as pessoas iam a pé para os lugares. Usavam escadas e percorriam grandes distâncias. Sem televisão e celulares era mais fácil brincar nas ruas e participar de atividades com maior gasto calórico. Pode ser que hoje até comamos menos, mas escolhemos alimentos com maior quantidade de gordura, mais saborosos, que tem mais energia. Além disso, não gastamos toda a energia que ingerimos.

Um dos alimentos processados considerados “do bem” é o azeite de oliva extra-virgem, que é produzido a partir de azeitonas e é prensado a frio. O azeite é considerado uma gordura boa, poli-insaturada, e aumenta o colesterol bom (HDL-c). Ainda assim, quantidades elevadas desse óleo também estão associadas ao ganho de peso. Então deve ser consumido com moderação.
Segundo os estudos, apenas os óleos de peixe e de cártamo estão associados à perda de peso em animais. No entanto, mais estudos em humanos precisam ser realizados para atestar os efeitos benéficos desses óleos. Sabemos que o consumo elevado de gorduras insaturadas, como o óleo de peixe, pode levar ao estresse oxidativo e, ao invés de apresentar efeito positivo, pode prejudicar a sua saúde. Por isso, deve-se ter muito cuidado ao tomar cápsulas que prometem milagres, como o óleo de peixe que aparece inclusive nas propagandas dos programas de TV. Até hoje, não vimos melhor oferta que a de comer tudo com moderação.
A boa notícia é que é sim possível comer o frango à parmegiana e o pudim de vez em quando.
Referências
Hariri N, Thibault L. High-fat diet-induced obesity in animal models. Nutr Res Rev 2010; 23:270–299.
Hariri N, Gougeon R, Thibault L. A highly saturated fat-rich diet is more obesogenic than diets with lower saturated fat content. Nutr Res 2010; 30:632–643.
Buettner R, Schölmerich J, Bollheimer LC. High-fat diets: modeling the metabolic disorders of human obesity in rodents. Obesity (Silver Spring) 2007;15:798–808
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