Prazer, você conhece o Streptococcus agalactiae?
- Natália P. de Castro
- 1 de dez. de 2021
- 3 min de leitura

Aqui já falamos de vários microrganismos, particularmente aqueles associados à microbiota intestinal, que já mostramos estarem relacionados ao nosso estado nutricional e a nossa saúde de forma geral. Não custa dar mais um exemplo: as pessoas obesas ou aquelas que consomem dieta hiperlipídica e hiperglicídica têm menor diversidade de bactérias no intestino que as pessoas eutróficas para o peso. Nas pessoas obesas há aumento da população das bactérias Firmicutes e depleção das bactérias chamadas de Bacteroidetes, ao passo que aqueles que consomem dietas como a do Mediterrâneo, tem maior população de Bacteroidetes e menor população de Firmicutes. Aliás, no 15º Simpósios de Obesidade e Síndrome Metabólica, o professor da Unicamp Mário José Abdalla Saad disse a seguinte frase: “O número de bactérias que habita nosso intestino é 10 vezes maior do que o número de células do nosso próprio organismo. Por isso, achar que elas não têm nenhum papel relevante em doenças é um pouco de inocência”. Essa frase, apesar de proferida em 2011, permanece atual.
Hoje, apresentaremos a bactéria Streptococcus agalactiae. Essa bactéria coloniza normalmente o intestino humano. Durante o ciclo de vida é possível que testemos positivo múltiplas vezes para a S. agalactiae. No entanto, em algumas situações específicas, essa bactéria pode ser perigosa e representar uma ameaça à vida de recém-nascidos. Explico: caso esteja presente na vagina e no ânus ao término da gestação, é possível que o recém-nascido aspire a bactéria quando passar pelo canal vaginal na hora do parto normal. O recém-nascido, com sistema imune imaturo, pode sofrer seriamente com a esta bactéria, contrair pneumonia, desenvolver sepse e, na pior das hipóteses, é possível que o pior aconteça.

Ao nascimento, no parto normal, a boca do bebê passa pela vagina da mãe - primeira colonização do intestino. No parto cesariana, a primeira colonização vem de bactérias presentes no centro cirúrgico - potencialmente mais perigosas e resistentes que as bactérias presentes na vagina.
Provavelmente, você deve estar se perguntando: então quem testa positivo pra S. agalactiae – porque sim, pessoal, o exame do cotonete é realizado pelo SUS no final da gestação, deve obrigatoriamente fazer parto cesariana para evitar o contato da boca do recém-nascido com a vagina da mãe colonizada pelo S. agalactiae? Pois é. A resposta é não. Isso, porque muitas vezes a contaminação vem do líquido amniótico e não pelo contato direto da boca do recém-nascido com o canal vaginal.
Atualmente, o protocolo preconizado pela American College of Obstetricians and Gynecologists e o American College of Nurse-Midwives recomendam que todas as mulheres sejam testadas para a S. agalactiae durante a 36ª semana da gestação. O exame é simples e envolve colocar um cotonete (ou swab – popularizado pelo coronavírus) na parede da vagina e no reto. As mulheres que testam positivo para a presença do S. agalactiae geralmente não apresentam sintomas. No entanto, os seus bebês têm maiores riscos de contraírem a bactéria ao nascimento. Como o a S. agalactiae pode ir e vir durante a gestação (resolvendo-se normalmente), o teste é feito somente na 36ª semana da gestação. Além disso, caso seja feita a antibioticoterapia precoce, é possível que a bactéria volte até o final da gestação. Em caso de teste positivo para a presença desta bactéria, durante o trabalho de parto é realizada a infusão via intravenosa de antibióticos (os mais comumente usados são a penicilina e ampicilina, mas outros podem ser empregados).
O tratamento da mulher durante o parto com antibióticos via intravenosa fazem com que o bebê tenha 20 vezes menos chance de desenvolver alguma complicação pela infecção do S. agalactiae em relação a mulher que não faz tratamento com antibióticos durante o trabalho de parto.
Algumas estratégias se provaram pouco eficazes para prevenir a infecção do recém-nascido pela S. agalactiae, são elas: tomar antibiótico via oral, iniciar antibioticoterapia antes do trabalho de parto e lavar o canal vaginal com solução desinfetante.
Dito isso, é possível que o líquido amniótico seja colonizado pela S. agalactiae e, nesses casos, não há muito o que se fazer, a não ser monitorar o bebê para a presença de sinais da infecção tardia.
Caso vocês tenham chegado até essa parte do texto, a próxima pergunta provavelmente será: tá, mas o que que isso tem a ver com a nutrição?
Estudos têm mostrado que as bactérias da vagina podem ser muito importantes para o tipo de parto, ocorrência de prematuridade e baixo peso ao nascimento. A S. agalactiae é especialmente preocupante pelas complicações que pode trazer ao nasicmento, comprometendo a saúde do neném nas primeiras horas de vida.
Mostramos anteriormente a importância das primeiras horas de vida para a programação da saúde e da doença na idade adulta - conhecida como a Origem Desenvolvimentista da Saúde e Doença ou Teoria de Barker. Portanto, a colonização das bactérias da vagina é bastante importante para o desenvolvimento futuro de doenças, o que inclui aquelas relacionadas à obesidade e estado nutricional.
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